sábado, 17 de julho de 2010

Dona Branca

Eu estava andando com um amigo aqui pelas ruas do centro, quando ele me perguntou:

- Você anda de bicicleta aqui?

- Ando sim. Faz bem para a minha saúde e pro planeta! Eu acho que o mundo seria um lugar muito melhor se as pessoas usassem mais as suas próprias pernas pra andarem por aí.

- Ah, entendi. Eu só perguntei porque eu comprei um carro, então eu poderia vender a minha scooter pra você por um preço amigo.

- Jura? Ai, que ótimo! Quando eu posso passar pra ver a moto?


Desculpa aí, Gaia, mas tá um calor dos infernos aqui.

Um beijo, bicicleta. Foi um prazer. Minha pernas agora torneadas agradecem.


Snif.


Olá, Dona Branca! Estou ansiosa pra correr risco de vida com você.


Porque o quanto o trânsito daqui é maluco não tá escrito.

sábado, 3 de julho de 2010

Lambada Oriental

Hoje eu fui assistir ao jogo da Alemanha X Argentina em um bar em Taipei. Foi uma felicidade só. A grande maioria dos taiwaneses estava torcendo pra Argentina, o que só deixou mais gostoso vibrar a cada gol da Alemanha. Cada um dos QUATRO.

Daí acabou o jogo e eu estava tão feliz que não conseguia parar de cantar. "Chooorando se foi quem um dia só me fez chorar". E ria. E dançava. Você se lembra dessa lambada? Então. Por algum motivo, era isso que eu cantava. E não é que a Aya, minha amiga taiwanesa, me diz:

- Ah, eu conheço essa que você está cantando!

- Oi? Como assim você conhece?

- É! Não é uma música taiwanesa?

- Não, é brasileira.
...
Calma. Volta. Você está me dizendo que existe uma versão EM CHINÊS de Lambada?


Pasmem.


(Obs.: Esse vídeo é de Hong Kong. Não encontrei o de Taiwan no Youtube).

Achei lisonjeante o fato de terem feito uma versão e tal. Mas, assim... né?
Hahahaha

Eu não sei o que eu achei mais pavoroso: o modelito do ser, a locação xis, as poses super-sensuais em câmera lenta, a edição estilo karaoke, os bate-cabelo intermináveis ou o frevo que rola no minuto 2:35.

Depois achei uma versão JAPONESA. Eles se aproximaram um pouquinho mais. A cantora até se veste a caráter e dança suada à luz do pôr-do-sol.



Tá pensando o quê? Gueixa também pode ser caliente.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Porque aprender Mandarim:

A seguinte situação aconteceu comigo hoje:

Eu estava comprando um iogurte em uma 7 Eleven qualquer, quando um cara xis surgiu do meu lado, deu uma risada deslumbrada e disse:

- Bla bla 非常 高 bla! Haha.


A moça do caixa balançou a cabeça de um lado pro outro e respondeu:

- 她聽不懂.

Eu, tranquila, guardei o meu troco no bolso, olhei para os dois sorrindo e, enquanto saía pela porta, falei:

- 對, 我聽不懂.


* TRADUÇÃO:

Homem dos dentes cor âmbar:
- Bla bla muito alta bla! Haha.

Moça do caixa:
- Ela não entende.

Eu:
- É, eu não entendo.


O semestre de Mandarim valeu a pena só por esse momento saboroso e efêmero.

domingo, 20 de junho de 2010

Super atleta por um dia

Bom, o fim de semana em que meus pais chegaram em Taiwan foi aquele d'A corrida. Eu tava super nervosa e ansiosa no sábado à noite. Não conseguia dormir por nada. – Será que eu vou conseguir subir até o topo? Uma da manhã. – Fica muito feio se eu demorar mais de uma hora pra subir tudo aquilo? Duas da manhã. – E se eu ficar cansada demais, desfalecer e rolar escada abaixo? Três da manhã. – Como faz se me bater a claustrofobia ali dentro? Quatro da manhã. – E se eu nem passar no mini exame médico de antes da corrida? Cinco da manhã. – Será que o percurso estará cheirando a suor?

Como vocês podem ver, tava um pouco difícil de relaxar. Um grande “sinto muito” pra você que acha errado, mas eu considerei necessário recorrer ao Lexotan pra conseguir calar a expectativa e dar um chega-pra-lá na adrenalina. Que maravilha. Um salve à pílula da alegria! Foi ótimo, super recomendo. Só me arrependo de não ter tomado antes das cinco e meia da manhã, porque duas horas depois eu já tive que levantar e vestir o meu uniforme de atleta.

Oito da manhã eu e meus pais entramos no carro com o Gil e a Aya rumo ao Taipei 101. Eu tava meio sonada, mas super empolgada, claro.


Chegando lá, vi um monte de gente se preparando pra subir, um palquinho com cheerleaders dançando e umas barraquinhas distribuindo amostras grátis de energético (me acabei na bebidinha da alegria também), suco, água, munhequeira e xarope pra conservar a cartilagem do joelho (? Xis).







Dirigi-me à tenda da organização do evento pra fazer o mini exame médico pré-corrida. Cheguei na doutora e falei: - Oi, eu vim fazer a avaliação.
Ela me olhou dos pés à cabeça e, assinando a minha ficha, disse:
- Você é bastante saudável.
- Hmm.. Obrigada?

Olha, foi o exame médico mais rápido da minha vida. Não sei por que eu me preocupei tanto com isso na noite anterior.

Bom, como eu fiz a minha inscrição nos ÚLTIMOS cinco minutos do ÚLTIMO dia – é claro – , eu estava alocada no ÚLTIMO grupo a subir. Lá pro meio-dia. Beleza, deu tempo de inspirar, expirar, alongar e dar uma voltinha no shopping do arranha-céu. Fiquei desfilando com o meu uniforme pra lá e pra cá, me achando A esportista. Fez bem pra minha confiança. Até o momento em que a minha mãe perguntou pra um homem que já tinha terminado a corrida:
- Como foi?
- Ah, eu desisti no 40º andar depois de 40 minutos subindo.

"Quê??". Pronto, bastou pra eu ficar insegura de novo. “Le dansée”.

Chegou a minha hora de subir. Eles estavam vibrando, torcendo. Uns fofos. Muito obrigada, viu? Sem vocês teria sido bem mais assustador e sem-graça.


- Cacá, então a gente se encontra lá em cima em uns 50 minutos, tá?

Entrei na fila.





Na concentração:

Logo antes de começar a subir eu passei o meu bracelete (com o chip que marca o tempo) na máquina que eles têm ali. Blip. E PRONTO, foi dada a largada!


Comecei a subir em um ritmo acelerado. Degrau após degrau. Não estava quente, não cheirava a suor, não estava cheio de gente. Ventiladores faziam o ar circular. A cada cinco andares, um time de apoio oferecia água e sofás para descanso. Não parei em nenhum desses postos. Eu acenava, sorria, e continuava. Eles batiam palmas e gritavam palavras de incentivo. Degrau após degrau. Décimo andar. Comecei a controlar a minha respiração, que já insistia em se tornar ofegante. Vigésimo andar. “Não deveria ter amarrado os meus cadarços tão apertados”. Trigésimo andar. O suor começou a escorrer e o meu corpo ficava cada vez mais quente. Quadragésimo andar. Mini-crise de claustrofobia tentando surgir. “Controle-se, Claudia!”. Qüinquagésimo andar. Nojo do corrimão. “Quantas mãos suadas já passaram por aqui?”. Sexagésimo andar. Pessoas paradas, envergadas, com as mãos nos joelhos, recuperando o fôlego. Setuagésimo andar. Imaginei como já estaria a vista se eu pudesse enxergar o lado de fora. Octogésimo andar. As minhas pernas começaram a ficar bambas de cansaço e emoção. Nonagésimo andar. Degrau após degrau. Nonagésimo primeiro andar. Blip – tempo marcado.

Logo a equipe de apoio me cobriu com uma toalha para amenizar o choque térmico. Flash de foto. Eu tava meio perdida. Pareceu uma viagem surreal. Como se eu estivesse dentro de uma caixa subindo escadas infinitas, mas sem sair do lugar. Até que o vento fresco me despertou com um tapa na cara: “Acorda, mulher! Você chegou no topo”.


(Obs.: Eu to pavorosa nessa foto, mas ela é a única que mostra o momento exato do final da corrida, assim como a minha cara de quem não tava assimilando muita coisa).

Andei devagar pra longe do fuzuê da chegada. Precisava contemplar aquela vista. Aquilo era o meu prêmio.
Apoiei a testa na grade fria. Inspirei fundo, forte. Expirei. Cheiro de nuvem. Realização.


Mal conseguia ver a linha do horizonte tamanha a neblina, mas pra mim já foi o suficiente. Agora eu queria encontrar meus pais e meus amigos pra comemorar a minha conquista – que pra alguns pode não querer dizer nada, mas pra mim valeu o mundo. Comecei a procurar o pessoal, mas não encontrava ninguém. “Ué, mas não era pra eles estarem aqui? (...) Será que faz menos de 50 minutos que eu comecei a subir?”. Fui buscar o meu certificado de conclusão da corrida. Na hora que eu o peguei na mão, nem acreditei: PERCURSO COMPLETADO EM 26 MINUTOS E 13 SEGUNDOS.


(Obs.: se você der um zoom nessa foto aí de cima, dá pra ver o "00:26:13" escrito no certificado).

O quê?!? Você jura? CAALA BOCA! Noossa, saí do lounge de cima pulando de alegria e encontrei meus pais lá embaixo, fora do prédio.


- Assim, Cacá, eu sempre acreditei em você, mas... 26 minutos?? Caramba, hein?

- Né? Arrasei ;]


Daí meus pais mandaram muitíssimo bem e convidaram todos pra almoçar no restaurante que fica lá no último andar. Comi como um padre, mas sem nenhum pingo de culpa católica.



Uma delícia de dia.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

It's cool to love your family

Eu estive sumida por uns tempos, mas é só porque eu tava fazendo mil coisas e agora to cheia de novidade pra contar.

Em primeiro lugar, os meus pais são incríveis e vieram me visitar aqui em Taiwan. Foi tão refrescante! Vieram no sábado 29 de Maio passar 4 dias em Hsinchu e redondezas, 5 dias na China Continental e mais alguns na Coréia. Ah, e nesse meio tempo me levaram pra passear em Shanghai pelo fim de semana. Como eu disse, incríveis.

A visita encheu meu coração de luz e a minha geladeira de comida:


Eu achava que ficava tão bonitinho com apenas aquela única garrafa de Vodka Absolut, bem no meio do freezer desértico.

Mas meus pais arrasaram e fizeram a compra do ano, além de também terem cozinhado e estocado comida brasileira e italiana no freezer (não mais desértico, naturalmente). Gente, eu sou crescidinha sim, mas não tem como negar. To aceitando de braços abertos. Se vocês quiserem me mandar comidas ocidentais também, vão em frente.

Ah é, e também teve o apê! Eles super deram um tapinha na decoração da minha sala, além de terem trazido o tecido pro sofá que a Giu me deu.


Agooora, sim. Oooutra coisa. Olha só que ambiente. Sinta o conforto despojado. Sente-se. Leia uma revista.

Então, deixa eu contar. Eles chegaram aqui no aeroporto e foi só emoção. A família da Aya Huang também foi recepcioná-los e depois todo mundo foi jantar juntinho.


Piadinhas, saladas, queijos, camisetas do brasil, havaianas, panna cotta. Não poderia ter sido melhor.

Durante os outros dias, eu os levei pra passear pela minha cidade. Praças, becos, comidas estranhas. The whole sha-bang.


PS: A presença do motoqueiro no quadro familiar não foi intencional.


* Note o conjuntinho "pescoço + cabeça de pato frito".

O tempo foi curto, mas muito bem aproveitado. O jantar de despedida também foi com a família Huang, e aí foi a nossa vez de ganhar presentinhos! Dá uma olhada:

Roupas, carimbos com os nossos nomes em chinês, pincéis, pingentes. Uma bela recepção. Amei cada presente.

Momento engraçado: Sabe quando a sua mãe vai tirar uma foto sua e fala pra você ajeitar a sua postura? Então, mas no caso da Aya, a mãe dela - que estava atrás da câmera - gritou: "e abre esse olho, minha filha!".


Logo na quarta de manhã eles voaram pra Guilin, no interior da China, e na sexta à noite foram me encontrar em Shanghai. Mas, antes, tenho que contar pra você como foi a corrida do domingo. Lembra? Taipei 101 Run Up?

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Na pindura

Eu tive um probleminha quando eu cheguei em Taiwan. O meu dinheiro-de-instalação-inicial foi separado em grana viva (30%) e cartão (70%), que travou aqui – mesmo eu avisando o banco que eu ia viajar. E eu ainda tive que pagar 3 meses adiantados do aluguel nada modesto do meu novo apê na hora de fechar o contrato.

O que aconteceu?

Fiquei na pobreza total, me virando do jeito que deu. Economizei bastante, inventei moda, tive muito jogo de cintura e roubei um pouquinho. Brincadeira, eu não economizei.
Ha-ha.

Hoje em dia tudo já está estabilizado, mas foi até bom eu ter passado pelo aperto. Aprendi umas coisas. Uma dica que posso dar é que, pra cortar custos de maneira inteligente, é necessário encontrar um equilíbrio entre o peso que as coisas têm no bolso X o quanto elas são importantes pra você.

Situação ilustrativa #1: Sabia que não faz muita diferença se você usar a metade da quantidade de pasta de dente na sua escova? Taí, já é alguma coisa. A diferença que isso vai fazer na sua vida é chocante.

Situação ilustrativa #2: perdi minha caixinha de óculos escuros e não tinha dinheiro pra comprar outra. A solução foi fazer uma com as minhas próprias mãos.


Sem nunca perder a pose.

domingo, 23 de maio de 2010

Dia das mães em Taiwan: Comida

O jantar consistiu em vários pratos que foram sendo levados à mesa ao longo de uma hora e meia. Alguns gostosos e outros bem curiosos, no mínimo. Um que me chamou muita atenção foi o Buddha Jumps Over the Wall (佛跳牆). Tradução: Buda pula o muro. Hehe. O prato foi batizado dessa forma, pois dizem que o seu cheiro é tão irresistível que despertaria a tentação até no próprio Buda. PS: caso você tenha dormido nessa aula de História, o iluminado pregava o desapego de todo e qualquer desejo.

É um ensopado que – de acordo com a receita completa e tradicional – requer mais de trinta ingredientes, doze condimentos e pode levar até dois dias para ser preparado. Ali no jantar a gente comeu uma adaptação do prato, porque a versão original é muito cara. Experimentei, claro, e achei rico. Forte.


Essa imagem é da internet porque eu não achei apropriado sacar a câmera do bolso e ficar tirando foto da mesa posta.

A receita típica leva: barbatana de tubarão (meio proibido por causa da caça), estômago de porco, tendão de porco, pato, pombo, peixe, bucho de peixe, camarão, vieira, moluscos, frango, ovos de codorna, broto de bambu, cogumelos, ginseng, pepino-do-mar, japonicus (japonicus? O que ser isso?), chinese wolfberry (?), taro (?), longan (?), entre outros.

A melhor parte é que, quando eu perguntei o que tinha exatamente na nossa versão prêt-à-porter, eles não souberam me responder. Veja que emocionante! Será que eu comi tendão de porco? Não sei. Bucho de peixe? Talvez. E japonicus? Pode ser, quem sabe?

Mas não foi só isso, não. Me aventurei e experimentei enguia assada, um molusco chamado haliote (que parece uma ostra) e a semente da flor de Lótus (boa!). Comi também a sopa Hakka com bolas de arroz (客家湯圓), sticky rice (“arroz grudento”), peixes, lula, polvo. Para acompanhar, molhos doces e salgados.

De sobremesa teve melancia e uma geléiazona bem consistente com recheio de red beans (seria correto eu traduzir como feijão vermelho?), ingrediente popular nas sobremesas daqui.

Bom, no final todos se despediram, se abraçaram e eu saí rolando do restaurante.

Obrigada, família Huang, por ter me mostrado a cultura do outro lado do mundo e, ao mesmo tempo, ter feito eu me sentir em casa.